Instantaneidade Temporal

É... a vida é uma sequência de mal entendidos... que o diga o tempo. Sempre que me perguntarem, (na verdade, nunca o fazem...) o que eu acho mais fascinante na vida, eu responderei duas coisas que não tem muita relação uma com a outra: o fogo e o tempo, sendo que me fascino ainda mais com o último. Pense com você mesmo: o tempo não é fascinante?
Existe a clássica de que o tempo cura tudo. Isso eu não sei porque ainda não sofri de tudo e duvdo que alguém um dia sofra, mas acredito que a afirmação possa ser verdadeira, apesar de jamais ter a certeza.
Mas perceba como o tempo é intrigante. Há um tempo atrás, você dizia que não poderia viver sem aquela pessoa especial. Hoje, você não pode viver sem outra ou ainda não pode viver com ninguém. Há anos, sua principal preocupação era não perder o desenho animado e conseguir terminar de montar os blocos antes do jantar, e hoje, é conseguir terminar o café a tempo de pegar o ônibus para o trabalho ou para a faculdade. Há muitos anos, sua única preocupação era chorar pra poder matar sua fome, hoje você faz de tudo para não chorar nas horas impróprias. Há décadas, você nem sonhava em nascer, hoje, seu filho é que nasce sem nem saber ainda que existe. O tempo muda, e nos obriga a acompanhá-lo.
O ontem era presente ontem. O hoje era futuro ontem e passado amanhã. E o futuro será presente amanhã, e num futuro ainda mais remoto, será passado, como tudo na vida passa.
Mas se pensarmos bem, o passado e o futuro não existem, porque as lembranças do passado e as expectativas do futuro são sentidas em toda a sua plenitude apenas quando passamos por elas. Se fosse a mesma coisa, não teríamos vontade de voltar para Paris (quem me dera...) ou beijar novamente aquele cara, pois se o passado fizesse o mesmo efeito do presente, a simples lembrança disso não despertaria em nós a vontade de "repetir a dose". As lembranças são imagens que se deixam enevoar com as marcas do tempo, entretanto, o presente, é a folha em branco, que só pode se perder quando é preenchida e então, vira passado.
Entretanto, o futuro... Ah, o futuro existe menos ainda. Porque se o passado é fixo, o futuro é incerto. Ficamos planejando tudo tintim por tintim e chega na hora, o destino puxa o nosso tapete. Às vezes, é bom. Mas quando é ruim... sai de baixo. Ninguém merece ficar horas numa loja escolhendo um vestido e na hora da festa manchar com vinho tinto. Ou planejar sua entrevista de emprego por dias e chegar na hora névoa encobrir seus pensamentos. Ou ainda ensaiar por dias e dias seu espetáculo de dança e no dia ser atropelado, quebrando uma perna.
Por isso, vivamos o presente! O amanhã será hoje amanhã, portanto, amanhã viverei o hoje de amanhã, e assim, sucessivamente. É claro que o que fazemos hoje tem consequência nos próximos "hojes", cabendo a cada um ter a consciência de assumir a responsabilidade por seus atos, ainda que uma parcela de culpa é do destino, já que às vezes as consequências que sofremos são de outras pessoas ou ainda do puro e mero acaso. Mas isso é a vida, e ela não existe sem o tempo, senão é morte. Assim como o tempo não existe sem a vida, senão é vazio, gerando assim uma curiosa interdependência. Dessa forma, chega-se à conclusão de que, se o tempo é fascinante, a vida é tanto quanto. Talvez não para mim, mas para você, você, você ou você. Ou ainda aquela pessoa que lerá este texto quando o tempo se encarregar de empurrar incontáveis instantes para a frente, transformando o futuro em presente e o presente em passado. Quem sabe essa pessoa não seja seu filho que eu mencionei a instantes atrás?